Valoração de áreas contaminadas - Tese de Doutorado
Resumo da tese de doutorado defendido sobre o tema
Mário Marcelino, Dr.
10/27/20256 min read


Valoração Antecipada de Áreas Contaminadas: a metodologia inovadora EBIC para decisões seguras e estratégicas
As áreas contaminadas representam não apenas uma preocupação ambiental: são riscos econômicos reais, que afetam o valor de imóveis, reforçam passivos ocultos e podem inviabilizar negócios. Compreender, quantificar e valorizar com antecedência as atividades de investigação e remediação se tornou fundamental para quem participa do mercado imobiliário, para quem adquire, vende ou reutiliza terrenos ou empreendimentos — em especial em brownfields (áreas já degradadas) que carregam tanto potencial quanto passivo.
Quando uma contaminação é caracterizada, surgem dois efeitos simultâneos:
uma limitação no uso do imóvel (o empreendimento já não pode operar ou ser re-usado da forma originalmente planejada);
um passivo ambiental associado aos custos técnicos e legais de investigação, remediação e monitoramento.
Como resultado, o valor de mercado do imóvel declina em relação ao que teria se não houvesse contaminação — e isso antes mesmo de qualquer processo de remediação. Um gráfico-modelo típico mostra essa evolução: o valor inicial do imóvel, a queda abrupta no momento em que se descobre a contaminação, a queda em uso/potencial, seguida pela recuperação parcial após os trabalhos de remediação.
Essa depreciação, entretanto, não se reverte automaticamente ao valor original — pois o estigma da contaminação, as incertezas e os riscos latentes permanecem.
Analisando 878 etapas de gerenciamento de áreas contaminadas (GAC) no Estado de São Paulo, realizadas por 21 empresas, constatou-se que em 90 % dos casos há necessidade de recuperação do dano reversível quando contaminantes estão acima dos limites legais. O tempo médio de gerenciamento é de 6,5 anos. Logo, a quantificação antecipada das ações de investigação e recuperação se revela como elemento decisivo para minimizar riscos técnicos, legais e financeiros.
Dados técnicos que sustentam a prática
Embora o Estado de São Paulo abranja cerca de 250 000 km² — com aproximadamente 30 % de embasamento cristalino e 70 % de Bacia do Paraná, além de sedimentos costeiros — os casos de contaminação por combustíveis fósseis têm sido majoritariamente associados a postos de combustíveis localizados em vias urbanas, com infra-estrutura de drenagem e vales preenchidos por sedimentos. Em situações onde o solo se assenta sobre rochas cristalinas, forma-se manto de alteração que, em termos hidráulicos, se comporta de modo comparável a solos sedimentares: porosidade efetiva média de 10,3 %, condutividade hidráulica média de 2,06×10⁻⁴ cm/s, velocidade média da água subterrânea de 2,54 m/ano, nível freático médio a 4,6 m de profundidade e gradiente hidráulico médio de 0,045.
Em termos de ocorrência dos contaminantes, os dados médios revelam:
fase retida (residual) ocorre geralmente em raio inferior a 2,0 m da fonte de contaminação;
fase livre média de 14,6 m de comprimento por 12,2 m de largura e espessura aparente de 0,29 m;
fase dissolvida média de 37,9 m de comprimento (máximo observado ~115 m), 33,6 m de largura (máx ~87 m) e espessura de 2,1 m;
a fase vapor, quando presente, funciona como excelente delimitador lateral da pluma de contaminação.
Esses dados comprovam que, apesar da diversidade geológica e urbana, os parâmetros hidráulicos e de contaminação mantêm certa consistência na região estudada — o que permite o estabelecimento de estatísticas robustas e bem calibradas para estimativas antecipadas.
Apresentando a metodologia EBIC (Estimativa Baseada na Investigação Confirmatória)
A metodologia que desenvolvi e defendi na Universidade de São Paulo (USP) traduz esse arcabouço técnico-estatístico em uma ferramenta prática para o mercado de compra, venda e gestão de imóveis contaminados ou potencialmente contaminados. O modelo EBIC é alimentado por dados reais (878 etapas de GAC no Estado de São Paulo) e permite estimar, a partir da fase de Avaliação Preliminar e Investigação Confirmatória, os custos, prazos e o escopo das atividades que serão exigidas em investigação detalhada e análise de risco.
Como funciona em linhas gerais:
A delimitação da Área-Fonte de Contaminação (AFcont) e a data estimada da contaminação (T₀) são definidas.
Com base nos dados hidrogeológicos locais, no histórico de contaminantes (por exemplo: BTEX, PAHs, TPH, Etanol) e nas estatísticas anteriores, o modelo calcula:
Número estimado de sondagens, poços e amostragens necessárias;
Volume estimado de investigação de solo, água subterrânea, solo gasoso;
Tecnologia provável de remediação, com prazo médio e custo estimado;
Tempo total estimado para investigação + remediação do dano reversível.
A partir disso, torna-se possível cotar no mercado os valores dessas atividades e, assim, atribuir uma valoração antecipada ao passivo ambiental associado ao imóvel.
Essa estimativa permite ao comprador ou vendedor de imóvel contaminado antecipar com seriedade o impacto técnico-econômico, negociar com transparência, e incorporar o passivo ambiental como parte integrante da decisão de investimento.
Resultados de mercado e aplicação prática
Com base na análise dos casos, os seguintes padrões foram observados:
A remoção da fonte de contaminação (por exemplo tanques e linhas de combustível) e do solo contaminado ocorre usualmente em menos de 1 mês.
Para a fase livre sem risco de vapores, a remediação típica demora menos de 2 anos.
Quando a fase livre está associada à fase vapor, a técnica de Extração Multifásica (MPE) foi aplicada em média por 3 anos.
As tecnologias de Soil Vapor Extraction (SVE) e/ou Air Sparging (ASp) mostraram-se eficientes para plumas dissolvidas associadas a vapor (tempo médio ~3 anos).
Para fase dissolvida sem vapor, Optou-se pela Oxidação Química (ISCO) e/ou Atenuação Natural Monitorada (ANM), com tempo médio de até 2 anos.
Esses padrões foram incorporados ao módulo EBIC de prognóstico, que integra previsões de prazo, custo, número de dispositivos e tecnologias aplicáveis. Projetos realizados pela empresa FREVO Ecoinovação e Sustentabilidade confirmaram que as quantificações se alinham de forma coerente com a prática de mercado, contribuindo para minimizar riscos corporativos em processos de fusões, aquisições ou renegociação de imóveis com passivo ambiental.
Considerações sobre danos irreversíveis e o valor do imóvel
Importante destacar: a metodologia EBIC trata da investigação e remediação do dano reversível. No entanto, mesmo após remediação bem-sucedida, pode haver um passivo irreversível — alterações ambientais de qualidade que persistem no solo ou subsolo, que limitam o uso futuro ou exigem compensações por serviços ambientais afetados. Por exemplo: redução na capacidade de suporte do solo, impacto nos aquíferos vizinhos, menor atratividade comercial ou estigma junto ao público e ao mercado.
A desvalorização máxima ocorre no momento da descoberta da contaminação e da caracterização técnica. Embora se registre recuperação gradual após remediação, o valor do imóvel raramente volta ao nível pré-contaminação — estudos sugerem uma depreciação residual tipicamente de ≈ 30%. Nesse contexto, proponho que, em uma reparação de danos ambientais para proprietários de imóveis afetados, o valor máximo de indenização seja equivalente a 30% do valor do imóvel antes da contaminação, a ser pago ao longo de até 30 anos — conforme preceitos do direito de usufruto e do Código Civil brasileiro.
A equação simplificada de valoração proposta é:
D=$Inv+$Rev+(13⋅$Imov)TDrev360+(13⋅$Imov)D = \text{\$Inv} + \text{\$Rev} + \left(\frac{1}{3} \cdot \text{\$Imov}\right)\frac{TD_{rev}}{360} + \left(\frac{1}{3} \cdot \text{\$Imov}\right)D=$Inv+$Rev+(31⋅$Imov)360TDrev+(31⋅$Imov)
onde:
$D = Valor total do dano ambiental
$Inv = Valor da investigação da contaminação
$Rev = Valor da reparação do dano reversível
$Imov = Valor do imóvel sem contaminação
TDrevTD_{rev}TDrev = Tempo necessário à reparação do dano reversível (em meses)
Para os serviços ambientais de solo e água, a metodologia pressupõe que os valores sejam comparáveis ao custo de substituição ou remoção do volume afetado, utilizando-se parâmetros como volume de água contaminada, custo de tratamento por m³, ou volume de solo a ser removido.
Por que essa metodologia é estratégica para compradores, vendedores e investidores
Transparência e antecipação: evita “surpresas” no pós-compra de imóveis com passivo oculto.
Negociação sustentável: fornece base técnica para ajustar preço, prazo, responsabilidades e financiamento.
Planejamento de risco: torna os custos ambientais parte integrante da análise de viabilidade econômica.
Valorização de brownfields: áreas degradadas localizadas em zonas urbanas com infraestrutura existente representam oportunidade — e a EBIC permite estimar seu custo-benefício. Conforme relatórios, a reabilitação de brownfields no Brasil cresce como alternativa à escassez de espaço urbano.
Cumprimento regulatório: no Estado de São Paulo já existem inventários de mais de 2.000 sítios contaminados investigados.
Redução de estigma e incerteza: ao quantificar antecipadamente, recua-se o “medo” do desconhecido e melhora-se a confiança do mercado.
Conclusão
Se você está envolvido em compra, venda, aquisição ou gestão de imóveis ou empreendimentos que possam estar contaminados ou que façam parte de uma brownfield — não ignore o componente ambiental. A valoração antecipada deixa de ser opção e passa a ser fator estratégico de sucesso ou insucesso.
Com a metodologia EBIC você transforma incerteza em dado, risco em cifra, e passivo oculto em variável negociável. Garanta que o valor real do imóvel — positivo ou negativo — esteja refletido antes de assinar o contrato. Faça a escolha inteligente, realize a due diligence ambiental robusta, e valorize com ciência aquilo que muitos ainda consideram “sobrou do passado”.
Invista com segurança. Valorize com precisão. Transforme ambientes degradados em oportunidades com consciência e estratégia.
Sustentabilidade
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