Qualidade da água de poço
Por que você deve monitorar a qualidade da água e como atender à legislação
Mário Marcelino, Dr.
8/25/20257 min read


Qualidade da água de poço: por que monitorar e como atender à legislação
A água subterrânea, em princípio, tende a ser de boa qualidade; porém poços — sobretudo rasos e/ou mal protegidos — podem sofrer influência de contaminantes superficiais, com destaque para esgoto doméstico, águas de enxurrada e fossas próximas. Por isso, controle, monitoramento periódico e boas práticas de desinfecção são essenciais para garantir potabilidade. A contaminação também pode ocorrer ao longo da rede hidráulica (reservatórios e tubulações do imóvel ou do sistema coletivo), quando há falta de cloro residual, intrusão de sujidades, conexões cruzadas ou biofilmes.
A legislação brasileira exige manutenção de desinfetante residual mínimo exatamente para reduzir esse risco.
Base legal no Brasil (âmbito federal)
A norma nacional de potabilidade é a Portaria GM/MS nº 888, de 04 de maio de 2021. Entre os pontos mais relevantes para quem opera poços e/ou soluções alternativas de abastecimento (coletivas ou individuais), destacam-se:
Padrões de potabilidade (microbiológicos, físicos, químicos e radiológicos) e planos de amostragem diferenciados para sistemas e soluções alternativas.
Desinfecção e residual: obrigação de manter, em toda a extensão do sistema de distribuição e nos pontos de consumo, mínimo de 0,2 mg/L de cloro residual livre (ou 2 mg/L de cloro residual combinado, ou 0,2 mg/L de dióxido de cloro).
Como apoio técnico à implementação da Portaria 888/2021, o Ministério da Saúde publicou um Guia de Implementação (2024), que traz orientações práticas sobre desinfecção (parâmetros, tempos de contato, etc.).
Regras no Estado de São Paulo
No Estado de São Paulo, a Resolução SS nº 65/2005 estabelece procedimentos e responsabilidades do PROÁGUA (vigilância da qualidade da água), exigindo de sistemas e soluções alternativas:
Plano de amostragem anual (modelo no Anexo II) e relatórios mensais do controle de qualidade enviados à autoridade sanitária municipal.
Deveres do operador e do usuário em manter instalações que garantam a qualidade. DAE Jundiaí+1
Além disso, a Resolução Conjunta SS/SMA nº 1, de 26/08/1997, impõe, em rede de abastecimento, teor mínimo de cloro residual livre de 0,2 mg/L em qualquer ponto — regra alinhada ao preconizado nacionalmente.
O CVS/SP também mantém comunicados técnicos clássicos sobre desinfecção de reservatórios e poços, úteis como orientação prática, como o Comunicado CVS-36/1991 (reservatórios) e o Comunicado CVS-37/1991 (poços freáticos).
Potenciais fontes de contaminação ao longo da rede
Mesmo que a água saia potável do poço/tratamento, pode se deteriorar:
Reservatórios sujos ou sem limpeza semestral/anuais favorecem coliformes, algas e sedimentos.
Falta de cloro residual permite crescimento microbiológico e biofilmes.
Refluxos (retrossifonagem) por pressões negativas/infiltração em juntas e fissuras.
A exigência de cloro residual mínimo (federal e estadual) existe para mitigar exatamente esses riscos em reservatórios e tubulações até o ponto de consumo.
Periodicidade das análises (o que fazer, na prática)
Sistemas/Soluções Alternativas Coletivas (SAC) e Individuais (SAI) devem seguir o plano de amostragem definido na Portaria 888/2021, com frequências proporcionais ao porte e risco, e formalizar o plano anual segundo a Resolução SS 65/2005 (Anexo II). Em SP, enviam-se relatórios mensais à vigilância municipal. (Consulte a vigilância local para ajustes ou exigências adicionais.)
Dica operacional: elabore o plano elencando pontos de coleta (saída do tratamento, reservatório, pontos de consumo distais), parâmetros (coliformes/Escherichia coli, cor, turbidez, pH, cloro residual, nitrato/nitrito, metais conforme o caso) e frequência. O modelo de planilha oficial de SP está no Anexo II. (DAE Jundiaí)
Poço doméstico (“caseiro”): não é isento de cuidado
Poço doméstico privado, embora nem sempre esteja sob o mesmo rito de controle formal que um sistema de abastecimento público/coletivo, não está isento de responsabilidade sanitária — afinal, a água será consumida. Assim, é prudente:
Proteger o poço (boca vedada, laje de proteção, afastamento de fossas, dreno de enxurrada para fora);
Limpar e desinfetar o reservatório;
Monitorar periodicamente (ao menos coliformes/E. coli, turbidez, cor, nitrato, pH, cloro residual);
Manter cloro residual no ponto de consumo (tipicamente 0,2–2,0 mg/L, conforme Portaria 888/2021).
Desinfecção (“choque de cloro”) de poço doméstico com água sanitária/hipoclorito
Duas situações distintas:
a) Desinfecção de emergência da água para consumo (ponto de uso):
Em situações de risco (p. ex., pós-enchente), o Ministério da Saúde orienta filtrar e adicionar 2 gotas de hipoclorito de sódio a 2,5% por litro de água, aguardando 30 minutos antes do consumo. (Equivalências: 1.000 L → ~100 mL de solução a 2,5%.)
b) Desinfecção do poço (choque do volume do poço):
Quando há suspeita/confirmada contaminação do poço ou após intervenções, aplica-se cloração de choque no volume total de água do poço, com tempo de contato adequado (ex.: 12–24 h), e descarga controlada logo depois, até o cloro residual voltar a níveis usuais e sem odor forte.
Referências brasileiras clássicas (CVS-37/1991) e guias correlatos usam faixas-alvo de cloro na água do poço para o choque, como 50 mg/L (≈12 h), 100 mg/L (≈4 h) ou 200 mg/L (≈2 h). Quanto maior a concentração, menor o tempo, mas maior a agressividade; 50 mg/L por 12–24 h é uma prática comum e conservadora. Após o contato, bombear para descarte seguro (área gramada, rede pluvial, sem encaminhar a cursos d’água) até reduzir o residual e então recoletar análises microbiológicas.
Como calcular a dosagem (passo a passo)
Calcule o volume de água no poço (em litros).
Poço tubular (formato cilíndrico):
V [L]=π×(D2)2×H×1000V\,[L] = \pi \times \left(\frac{D}{2}\right)^2 \times H \times 1000V[L]=π×(2D)2×H×1000
onde D = diâmetro interno (m) e H = altura da coluna d’água (m).
(O CVS-37 traz tabelas práticas de volume por diâmetro/profundidade.) DAE Jundiaí
Escolha a concentração-alvo do “choque” (C, em mg/L) — por ex., 50 mg/L.
Massa de cloro ativo necessária (em gramas):
m [g]=C [mg/L]×V [L]1000m\,[g] = \frac{C\,[mg/L] \times V\,[L]}{1000}m[g]=1000C[mg/L]×V[L]
Converta para volume do produto conforme o rótulo (teor de cloro ativo).
Água sanitária/hipoclorito de sódio comercial (“Qboa”) costuma ter 2,0%–2,5% de cloro ativo (verifique no rótulo).
2,5% ≈ 25 g de cloro ativo por litro de produto.
Volume do produto (L)=m [g]25 [g/L]\text{Volume do produto (L)} = \frac{m\,[g]}{25\,[g/L]}Volume do produto (L)=25[g/L]m[g]
Exemplo numérico (meramente ilustrativo): poço tubular de 6” (0,1524 m) com 30 m de coluna d’água.
Volume: V≈π×(0,15242/4)×30×1000≈547V \approx \pi \times (0{,}1524^2/4)\times 30 \times 1000 \approx 547V≈π×(0,15242/4)×30×1000≈547 L.
Para 50 mg/L: m=50×547/1000≈27,35m = 50 \times 547/1000 \approx 27{,}35m=50×547/1000≈27,35 g de cloro ativo.
Com água sanitária 2,5%: 27,35/25≈1,0927{,}35/25 \approx 1{,}0927,35/25≈1,09 L de produto.
Proceda a pré-mistura, recircule a água no poço (se possível) para homogenizar, aguarde o tempo de contato (12–24 h para 50 mg/L), bombeie o poço até reduzir o odor/residual e recolha amostras (coliformes/E. coli) antes de voltar a consumir.
Importante: após o choque, a água não deve ser consumida até que o cloro residual e as análises microbiológicas estejam adequados. Em SP, recomenda-se seguir os comunicados CVS e as diretrizes do PROÁGUA, e consultar a vigilância municipal.
Boas práticas resumidas
Isole o poço de fontes potenciais de contaminação (distâncias mínimas de fossas, drenos, currais etc.).
Vede e proteja a boca do poço; instale laje de proteção e tubo de revestimento adequado.
Faça limpeza e desinfecção periódicas dos reservatórios (ver procedimentos do CVS-36/1991 DAEE Jundai/SP).
Mantenha cloro residual (≥ 0,2 mg/L) no ponto de consumo e monitore com frequência compatível ao risco.
Os Quadros 1 a 3 apresentam uma orientação simplificada de como proceder para o bom controle da água de seu poço. No entanto, destaco que o autor não assume a responsabilidade por qualquer ação baseada nas informações apresentadas, uma vez que é de inteira responsabilidade da pessoa que usar, uma vez que as informações são orientativas, e devem ser avaliadas e aplicadas por um técnico especializado).
Referências principais (seleção)
Portaria GM/MS nº 888/2021 – Norma de qualidade da água para consumo humano; residual mínimo de desinfetante e diretrizes de controle/vigilância. BVS MS
Guia de Implementação da Portaria 888 (MS, 2024) – parâmetros C·t, orientações práticas.
Resolução SS nº 65/2005 (SP) – Procedimentos/Responsabilidades; plano de amostragem (Anexo II).
Resolução Conjunta SS/SMA nº 1/1997 (SP) – Cloro residual livre mínimo de 0,2 mg/L na rede.
Comunicado CVS-36/1991 (reservatórios) e CVS-37/1991 (poços freáticos) – procedimentos práticos de desinfecção.
Orientações do Ministério da Saúde para água segura (uso de hipoclorito 2,5% em ponto de uso).






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