MINERAÇÃO DE AREIA - PARTE II

A Importância da Areia na Construção Civil: Composição, Classificação e Riscos

Mário Marcelino, Dr.

7/30/20253 min read

A Importância da Areia na Construção Civil: Composição, Classificação e Riscos

Você sabe o que é, de fato, o mineral "areia" utilizado na construção civil?

A areia é um agregado de origem natural ou artificial, com granulometria inferior a 4,8 mm. Nas areias naturais, especialmente as de origem aluvionar, há predominância de grãos de quartzo, um óxido de silício cristalizado (SiO₂). O quartzo é um dos minerais mais abundantes da crosta terrestre, conhecido por sua alta dureza, resistência química e estabilidade, o que o torna amplamente útil em diversas indústrias.

As rochas, sejam ígneas, metamórficas ou sedimentares, quando submetidas a processos de intemperismo, liberam o quartzo, que pode ser transportado e depositado em planícies, ou ainda permanecer acumulado in situ, formando depósitos economicamente explotáveis. Areias oriundas da alteração de rochas graníticas podem apresentar também outros minerais, como feldspatos, micas e minerais acessórios.

Na construção civil, também se utilizam areias artificiais, obtidas pela fragmentação de rochas (os chamados “finos de pedreira”). Essas areias têm composição mineralógica semelhante à da rocha matriz, geralmente com menor teor de quartzo do que as areias naturais.

A maior parte da produção de areia destina-se ao setor varejista, onde a exigência principal é a granulometria. No entanto, essa exigência não costuma ser muito rigorosa, e é comum encontrarmos areias com variação granulométrica significativa. Já para aplicações técnicas mais exigentes, são necessários controles mais rigorosos, incluindo análise da forma dos grãos, reatividade, alterabilidade e presença de impurezas, como finos, matéria orgânica e sais.

As areias são classificadas com base em sua distribuição granulométrica, que por sua vez determina seu uso na construção (Tabela 1). Dada a variação granulométrica resultante do tipo de depósito e do processo de lavagem (com pouca ou nenhuma padronização), vêm sendo feitos esforços para normalizar os tipos de areia (Tabela 2). A chamada "areia normal" é aquela com composição semelhante à das areias do rio Tietê, sendo utilizada exclusivamente em ensaios laboratoriais de resistência de concreto.

Outro aspecto relevante é o formato dos grãos: areias aluvionares costumam ter grãos mais arredondados, o que favorece sua aplicação em concretos, ao contrário das areias artificiais ou derivadas de solos de alteração, que tendem a apresentar grãos mais angulosos.

Além de ser inerte, a areia deve promover boa adesão entre a pasta de cimento e os agregados. A presença de impurezas pode comprometer seriamente a qualidade do concreto. Por isso, existem limites máximos de contaminantes (Tabela 3), especialmente sais como o cloreto, que aceleram a corrosão das armaduras metálicas e comprometem a durabilidade da estrutura.

Um caso emblemático foi o desabamento do Edifício Palace II, no Rio de Janeiro, em 1998, que resultou na morte de oito pessoas. Entre os fatores investigados, foi apontado o uso de materiais de baixa qualidade, incluindo a suspeita do uso de areia de praia, rica em sais. A alta concentração de íons cloreto presentes nesse tipo de areia pode provocar a oxidação das armaduras, levando ao colapso estrutural. Vale lembrar: se areia de praia servisse para construção civil, já não haveria mais praias nos grandes centros urbanos, não é mesmo?

Por fim, embora o CREA-RJ tenha concluído que a principal causa da tragédia foi uma falha no projeto estrutural — especificamente no detalhamento da armadura de dois pilares — o caso reforça a necessidade de controle rigoroso dos materiais empregados nas construções.

A areia, muitas vezes subestimada, é peça-chave na qualidade das obras, influenciando diretamente a durabilidade, resistência e desempenho das estruturas. Conhecimento técnico, fiscalização e boas práticas são indispensáveis para garantir segurança e eficiência no setor da construção civil