Microplástico - o problema moderno invisível
O que são, como se formam e onde esta presentes e os problemas associados
Mário Marcelino, Dr.
9/30/20255 min read


Microplásticos no meio ambiente — origem, dispersão, acúmulo e impactos
O que são e de onde vêm
Microplásticos são fragmentos plásticos com tamanho inferior a 5 mm (e incluem também nanoplásticos, muito menores). Eles têm duas origens principais:
(1) primários, fabricados intencionalmente nessa escala (ex.: microesferas em cosméticos antigos, pellets industriais); e
(2) secundários, resultantes da degradação física, química e biológica de itens plásticos maiores — embalagens, redes de pesca, pneus, fibras sintéticas de roupas, tintas e outros. O desgaste de pneus, a lavagem de tecidos sintéticos e a fragmentação de embalagens são fontes especialmente relevantes no cotidiano.
Como se espalham
Microplásticos espalham-se por várias rotas e processos:
Rios e escoamento urbano carregam fragmentos do solo e das cidades para cursos d’água e, daí, para os oceanos.
Efluentes de estações de tratamento e lamas de esgoto (usadas como fertilizante) dispersam partículas para rios e solos agrícolas.
Atmosfera: partículas muito pequenas podem ser levantadas pelo vento e transportadas por centenas a milhares de quilômetros, depositando-se em áreas terrestres e remotas.
Cadeia de transporte marinho: correntes, marés e vórtices (giros oceânicos) concentram plásticos flutuantes em zonas específicas (zonas de convergência e “ilhas” de lixo), enquanto partículas menores afundam ou ficam suspensas na coluna de água.
Transporte biológico: animais que ingestam e excretam partículas podem redistribuí-las, e organismos marinhos podem transportar microplásticos através da cadeia trófica.
Esses mecanismos fazem com que microplásticos circulem entre ambientes aquáticos, terrestres e atmosféricos.
Onde se acumulam
Microplásticos já foram detectados praticamente em todos os compartimentos ambientais estudados:
Oceanos: superfície, coluna d’água e sedimentos de praia e mar profundo, inclusive em áreas remotas e nos giros oceânicos.
Água doce: rios, lagos e sedimentos de bacias fluviais.
Solo: especialmente em áreas que recebem lamas de esgoto, fertilizantes contaminados ou deposição atmosférica.
Atmosfera: partículas inaláveis encontradas em áreas urbanas e rurais, inclusive depositando-se em geleiras e regiões polares.
Organismos: plâncton, peixes, moluscos, aves e mamíferos marinhos; também detectados em alimentos (sal marinho, frutos do mar, mel, cerveja), em água engarrafada e até em amostras biológicas humanas.
Como afetam animais e ecossistemas
Os efeitos observados e preocupantes incluem:
Ingestão física: microplásticos podem obstruir trato digestivo, reduzir a saciedade, provocar lesões e diminuir a aptidão física e reprodutiva de organismos aquáticos.
Translocação e acumulação: partículas pequenas podem atravessar barreiras intestinais e acumular-se em tecidos, potencialmente afetando órgãos.
Veículo de contaminantes: microplásticos podem carregar aditivos químicos (ftalatos, bisfenol A, retardadores de chama) e adsorver poluentes ambientais (PCBs, metais), facilitando a exposição química de organismos.
Efeitos ecológicos: alteração de interações ecológicas, alterações no funcionamento de sedimentos e solo (por exemplo, mudanças na estrutura do solo e na germinação de plantas), e impactos em populações por redução de sobrevivência e fecundidade. Estudos de laboratório e de campo mostram respostas que vão de inflamação até alterações comportamentais em espécies-modelo.
Impactos na saúde humana — o que se sabe e o que ainda é incerto
A pesquisa em saúde humana está em rápido crescimento, mas ainda cheia de lacunas. Pontos importantes:
Exposição generalizada: humanos são expostos principalmente por ingestão (alimentos, água) e inalação (partículas no ar). Estimativas sugerem dezenas de milhares a centenas de milhares de partículas plásticas ingeridas/inaladas por pessoa por ano, variando por dieta e consumo de água engarrafada.
Mecanismos potenciais de dano: estudos in vitro e em animais indicam que micro/nanoplásticos podem causar inflamação, estresse oxidativo, alteração de funções celulares e resposta imunológica; partículas minúsculas são de particular preocupação porque podem atravessar barreiras biológicas. Revisões científicas pedem cautela, porque os resultados dependem fortemente do tamanho, forma, composição e dose da partícula.
Evidência humana emergente: microplásticos foram detectados em tecidos humanos e em placas arteriais em alguns estudos, e associações com problemas cardiovasculares e outros efeitos foram relatadas; contudo, causalidade direta ainda não está estabelecida e faltam estudos de longo prazo e com amostras maiores. Organizações como a OMS destacam a necessidade de mais investigação para quantificar riscos reais à saúde humana.
Onde e como foram detectados (exemplos)
Oceanos e sedimentos marinhos: amostragens de superfície, coluna d’água e sedimentos mostram partículas em todos os oceanos, inclusive em regiões profundas.
Águas doces e solos: rios de grande do mundo transportam microplásticos das regiões urbanas para o mar; solos agrícolas contêm partículas associadas ao uso de lamas.
Ar e gelo: depósitos atmosféricos foram encontrados em áreas urbanas e remotas; microplásticos também aparecem em neve e gelo de alta latitude.
Alimentos e água: estudos detectaram microplásticos em peixes e mariscos consumidos, em sal marinho e em água engarrafada (com concentrações frequentemente maiores do que em água de torneira).
Tecidos humanos: pesquisas recentes reportaram partículas em amostras biológicas humanas, incluindo em placas arteriais de pacientes com doença cardiovascular — achados que elevam a urgência de investigação.
Por que a preocupação é séria
Ubiquidade e persistência: plásticos não desaparecem facilmente; partem-se em partículas cada vez menores que permanecem por décadas ou mais.
Exposição humana e ecológica generalizada: a presença em água, ar, solo e alimentos significa exposição contínua para a maioria das populações.
Incerteza científica com sinais de risco: apesar das incertezas, há sinais consistentes de efeitos adversos em animais e de mecanismos plausíveis de dano em humanos (inflamação, efeitos endócrinos, transporte de toxinas). A incerteza não é garantia de segurança.
O que pode ser feito — medidas e soluções
Redução na fonte: diminuir o uso de plásticos descartáveis e de produtos que liberam microfibras; substituição de polímeros problemáticos por alternativas seguras; proibição/remoção de microesferas em cosméticos (medida já adotada em vários países).
Melhor gestão de resíduos: coleta, reciclagem e disposição adequada para evitar vazamento ambiental.
Melhorias tecnológicas: filtros em lavadoras de roupa para capturar microfibra; avanços em tratamento de água/efluentes para remover partículas; pesquisas em pneus e materiais menos abrasivos.
Política e economia circular: metas de redução, design para reciclagem, responsabilidade do produtor estendida e incentivos à economia circular.
Pesquisa e monitoramento: mais estudos padronizados sobre exposição e efeitos humanos, estratégias de remediação e vigilância ambiental contínua — prioridade para a formulação de políticas baseadas em evidências.
Resumo final
Microplásticos são um poluente onipresente e persistente originado tanto de produtos fabricados pequenos quanto da degradação de plásticos maiores. Eles circulam por ar, água e solo, acumulam-se em ambientes e organismos e já foram detectados em alimentos, água engarrafada e até em amostras humanas.
Embora muitas lacunas científicas existam sobre os riscos concretos à saúde humana, as evidências experimentais e ecológicas — aliadas à escala global do problema — justificam ações imediatas para reduzir emissões, melhorar gestão de resíduos e ampliar a pesquisa. Organizações internacionais (UNEP, OMS) e a literatura científica recomendam prudência e políticas que reduzam a produção e o vazamento de plásticos na natureza.
Sustentabilidade
Consultoria ambiental com foco em desenvolvimento sustentável.
CONTATO
contato@frevo.eco.br
+55 (11) 98305-0121
© 2025. All rights reserved.