Investigação Geofísica Eletromagnética
Geofísica Eletromagnética: Fundamentos, Metodologia e Aplicações
Mário Marcelino, Dr.
12/11/20255 min read


Investigação Geofísica Eletromagnética: Fundamentos, Metodologia e Aplicações
1. Introdução: o que é Geofísica e o que são os métodos eletromagnéticos
A Geofísica é um conjunto de técnicas que utilizam princípios físicos — como gravidade, eletricidade, magnetismo, ondas sísmicas e propriedades térmicas — para investigar o subsolo de forma indireta, rápida e não destrutiva. Em vez de escavar, a geofísica mede como o solo e as rochas respondem a estímulos físicos (naturais ou induzidos) e, a partir dessas respostas, constrói modelos tridimensionais da estrutura subterrânea.
Entre os vários grupos de métodos, os métodos eletromagnéticos (EM) são particularmente importantes porque avaliam a condutividade elétrica do subsolo, um parâmetro extremamente sensível à presença de água, minerais metálicos, argilas, contaminações e cavidades. Eles se baseiam na geração e na medição de campos elétricos e magnéticos, permitindo investigar desde poucos metros até centenas de metros de profundidade.
A geofísica eletromagnética destaca-se por:
rapidez de aquisição,
boa relação custo/benefício,
alta sensibilidade a contrates geológicos,
capacidade de mapear estruturas laterais e verticais,
aplicação em hidrogeologia, geotecnia, meio ambiente e mineração.
2. Conceitos básicos e teoria eletromagnética aplicados à geofísica
2.1 Condutividade e Resistividade Elétrica
A condutividade elétrica (σ) representa a facilidade com que cargas elétricas se movem em um material; a resistividade (ρ) é o seu inverso. Esses parâmetros variam enormemente conforme a litologia e as condições hidrogeológicas:
alta resistividade: rochas cristalinas, rochas secas, quartzitos, arenitos limpos;
baixa resistividade: argilas, solos úmidos, água com sais dissolvidos, plumas de contaminação, minérios metálicos.
Assim, a distribuição da condutividade atua como uma “assinatura elétrica” do subsolo, permitindo diferenciar materiais com alta precisão.
2.2 As Leis de Maxwell
A fundamentação teórica dos métodos eletromagnéticos está nas quatro equações de Maxwell, que descrevem a interação entre campos elétricos e magnéticos.
Lei de Faraday: um campo magnético variável gera um campo elétrico induzido;
Lei de Ampère-Maxwell: correntes elétricas e variações de campo elétrico geram campos magnéticos;
Lei de Gauss da Eletricidade: cargas distribuem o campo elétrico;
Lei de Gauss do Magnetismo: não existem monopólios magnéticos isolados.
Essas interações explicam como um campo primário induz correntes de Foucault no subsolo, que geram um campo secundário, medido pelos sensores.
2.3 Profundidade de Penetração (Skin Depth)
A profundidade atingida pela onda EM depende da frequência aplicada. De forma geral:
baixas frequências → maior profundidade → menor resolução
altas frequências → investigação rasa → alta resolução
Isso permite ajustar a metodologia ao objetivo (ex.: investigar fraturas rasas ou aquíferos profundos).
2.4 Correntes Induzidas e Propriedades do Meio
O campo EM induz correntes no subsolo, cuja intensidade depende da condutividade. Essas correntes são medidas em amplitude e fase, permitindo estimar a geometria das camadas, a presença de água, mineralizações, zonas alteradas, aterros e estruturas enterradas.
3. Como é realizada a investigação geofísica eletromagnética
3.1 Planejamento do levantamento
Um levantamento bem planejado considera:
objetivos (profundidade-alvo, resolução desejada, tipo de material a identificar),
limitações logísticas,
escolha do método EM (FDEM, TDEM, AEM, GPR),
espaçamento entre pontos e linhas,
interferências potenciais (rede elétrica, cercas metálicas, torres de alta tensão).
3.2 Seleção da metodologia eletromagnética
(a) FDEM – Eletromagnetismo no Domínio da Frequência
Utiliza frequências contínuas. Adequado para investigações rasas (0–50 m) em:
solos,
contaminação,
agricultura,
geotecnia,
mapeamento de variações laterais rápidas.
(b) TDEM/EMT – Eletromagnetismo Transiente
Utiliza pulsos desligados rapidamente, medindo o campo secundário ao longo do tempo. Possui grande profundidade (até centenas de metros). Aplicado em:
hidrogeologia,
avaliação de aquíferos,
zonas saturadas,
estruturas profundas.
(c) AEM – Eletromagnetismo Aerotransportado
Levantamentos por helicóptero ou avião, cobrindo grandes áreas em curto tempo. Ideal para:
mineração,
mapeamento regional,
modelagem de bacias sedimentares,
estudos ambientais de larga escala.
(d) GPR – Radar de Penetração no Solo
Método EM de alta frequência. Útil para:
investigações rasas (0–10 m),
estruturas enterradas,
geotecnia,
arqueologia,
detecção de tubulações.
3.3 Aquisição de dados em campo
Durante o levantamento:
são traçados perfis ou malhas,
sensores registram centenas de medidas por minuto,
registra-se amplitude, fase, tempo de decaimento,
avalia-se continuamente ruído e interferências.
A fase de campo deve ser rigorosa, pois dados EM são sensíveis a qualquer fonte metálica ou eletromagnética externa.
3.4 Processamento e inversão dos dados
Após a aquisição:
filtros removem ruídos e anomalias espúrias,
dados são corrigidos por topografia,
aplica-se a inversão geofísica, que converte as medições em modelos 1D, 2D ou 3D de condutividade elétrica.
Modelos de inversão são o “coração” da geofísica moderna: resolvem matematicamente o modelo de subsolo mais provável segundo as leis do eletromagnetismo.
3.5 Interpretação geológica
A interpretação envolve relacionar a resposta EM com:
litologia (argila, areia, rocha, basalto, calcário),
estado de saturação (seco, úmido, saturado),
presença de plumas,
estruturas (falhas, fraturas),
mineralizações,
alterações hidrotermais.
A interpretação deve integrar dados geológicos, poços, sondagens, ensaios de campo e imagens satelitais.
4. Aplicações dos métodos eletromagnéticos
4.1 Mineração
Os métodos EM são amplamente utilizados para:
localizar minérios metálicos condutivos (sulfetos de cobre, zinco, níquel, ouro associado),
mapear corpos de minério ocultos,
delimitar zonas alteradas hidrotermalmente,
identificar estruturas tectônicas controladoras de mineralização,
realizar levantamentos aerogeofísicos regionais.
O uso de AEM e TDEM é particularmente eficaz em depósitos profundos e cobertos por laterita.
4.2 Geotecnia
Na engenharia e obras civis, os métodos EM permitem:
detectar aterros, cavidades, tubulações metálicas, canalizações antigas,
identificar zonas de solo mole ou saturado,
mapear áreas de recalque e instabilidade,
investigar fundações antes de obras,
delimitar zonas de infiltração ou permeabilidade elevada.
O FDEM e o GPR são os mais usados devido à resolução e rapidez.
4.3 Meio Ambiente
No setor ambiental, a geofísica EM é extremamente valiosa para:
delimitar plumas de contaminação,
identificar vazamentos de tanques enterrados,
mapear aterros irregulares,
localizar drenos, resíduos enterrados, tambores metálicos,
investigar intrusões salinas em aquíferos costeiros,
acompanhar a evolução de remediações.
Como contaminações alteram fortemente a condutividade, a resposta EM é altamente sensível.
5. Conclusão
A geofísica eletromagnética é hoje uma das metodologias mais versáteis e eficientes para investigar o subsolo. Seus fundamentos estão solidamente ancorados nas leis do eletromagnetismo, permitindo medir como o terreno responde a estímulos elétricos e magnéticos com precisão e rapidez.
A riqueza de informações obtidas — profundidade, forma das camadas, saturação, mineralização, estruturas, contaminação — faz da geofísica EM uma ferramenta indispensável na mineração, geotecnia, meio ambiente e hidrogeologia.
Por ser não destrutiva, econômica, rápida e de grande cobertura, ela se tornou uma tecnologia essencial para decisões responsáveis sobre o uso do solo, a exploração de recursos naturais e a proteção do meio ambiente.
6. Analogias da Geofísica Eletromagnética com um Fogão de Indução
A metodologia eletromagnética pode ser compreendida facilmente por meio do fogão de indução, que funciona com base nos mesmos princípios físicos.
Como o fogão de indução funciona?
A bobina do fogão gera um campo eletromagnético.
Esse campo induz correntes elétricas no fundo metálico da panela.
As correntes geram calor — mas só onde a panela toca, porque é lá que o material responde.
Como isso se relaciona com a geofísica EM?
O equipamento geofísico é como a bobina do fogão: ele cria um campo primário no solo.
O subsolo funciona como a “panela”: responde ao campo com correntes induzidas.
A intensidade dessas correntes depende do material (argila, rocha, água, minério).
O sensor geofísico mede esse “calor elétrico”, que chamamos de campo secundário.
A partir dessas medições, reconstruímos o que está “invisível” debaixo da superfície.
Assim como o fogão de indução “revela” onde há metal e aquece proporcionalmente à sua resposta elétrica, a geofísica EM “revela” onde existem materiais condutivos, estruturais ou saturados, traduzindo essas respostas em modelos claros do subsolo.
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