Hidrogeologia: cunha salina

O que é, como funciona e interage com a água subterrânea doce

Mário Marcelino, Dr.

8/15/20252 min read

Hidrogeologia: Zona de Transição e Cunha Salina

Na hidrogeologia, compreender a interação entre água doce e água salgada é essencial, especialmente em áreas costeiras, onde aquíferos são influenciados pelo mar. Dois conceitos fundamentais nesse contexto são zona de transição e cunha salina.

Cunha Salina

A cunha salina é uma massa de água salgada que penetra no interior de um aquífero costeiro a partir do mar, devido à diferença de densidade entre água doce e água salgada.

  • Origem: a água do mar, mais densa, infiltra-se por baixo da água doce que escoa subterraneamente em direção ao oceano.

  • Formato: o contato entre a água doce e a água salgada forma uma superfície inclinada (interface salina), resultando em um corpo de água salgada com formato semelhante a uma cunha.

  • Comportamento: em condições naturais, a pressão da água doce mantém a cunha salina próxima à costa. Porém, bombeamentos excessivos de poços reduzem essa pressão, permitindo que a cunha avance para o interior e, em alguns casos, alcance a zona de captação de poços.

  • Efeito do rebaixamento: segundo a relação de Ghyben-Herzberg, teoricamente, para cada 1 metro de rebaixamento do nível da água doce no poço, a cunha salina abaixo desse ponto poderia ascender até 40 metros. No entanto, na prática, esse valor pode variar devido a fatores como heterogeneidade do aquífero, presença de camadas menos permeáveis, recarga local e dispersão da zona de transição.

Zona de Transição

Entre a água doce e a água salgada, não existe um limite abrupto, mas sim uma zona de transição — também chamada de zona de mistura ou zona de dispersão.

  • Definição: faixa do aquífero onde ocorre mistura gradual entre água doce e água salgada, formando um gradiente de salinidade.

  • Largura: pode variar de poucos metros a centenas de metros, dependendo das características do aquífero (porosidade, permeabilidade) e do fluxo subterrâneo.

  • Comportamento: é dinâmica e pode se deslocar em resposta a variações no nível do mar, recarga de água doce, secas prolongadas ou bombeamentos intensos.

  • Importância: serve como zona de amortecimento, mas também é a primeira a ser afetada quando há intrusão salina, tornando-se indicador sensível de mudanças no equilíbrio hídrico.

Risco e Gestão

O avanço da cunha salina e o alargamento da zona de transição representam riscos para o abastecimento de água potável em regiões costeiras. Monitoramento constante, gestão controlada de extrações e recarga artificial são estratégias fundamentais para preservar a qualidade dos aquíferos.