Estudo de locação para perfuração de poço de água.

Saiba como é que é feito o estudo hidrogeológico para a locação de poço para captação de água subterrânea

Mário Marcelino

8/7/20253 min read

ESTUDO HIDROGEOLÓGICO PARA PERFURAÇÃO DE POÇOS DE ÁGUA

A captação de água subterrânea, especialmente por meio de poços tubulares profundos, exige planejamento técnico e responsabilidade ambiental. Mas afinal, como se decide perfurar um poço? E como escolher o local e a profundidade adequados?

Como qualquer obra de engenharia, a perfuração de um poço deve ser precedida por estudos técnicos e um projeto básico de construção. O principal deles é o estudo hidrogeológico, que tem como objetivo caracterizar as condições do subsolo e fornecer informações essenciais para o sucesso da obra.

O que é a hidrogeologia?

A hidrogeologia é a ciência que estuda as águas subterrâneas: como elas se formam, onde se acumulam, como se movimentam e como interagem com o meio geológico. Ela integra conhecimentos da geologia e da hidrologia, sendo essencial para garantir o uso sustentável dos aquíferos.

A água subterrânea se origina principalmente da infiltração da chuva, que atravessa o solo e penetra nas camadas mais profundas do subsolo. Ela se acumula nos espaços vazios — chamados poros — presentes entre grãos de sedimentos ou nas fraturas e fissuras das rochas. A quantidade de água que pode ser armazenada depende da porosidade do material, enquanto o seu movimento é controlado pela permeabilidade, ou seja, pela capacidade do solo ou rocha de permitir a passagem da água.

ETAPAS DO ESTUDO HIDROGEOLÓGICO

O estudo hidrogeológico reúne o maior número possível de dados disponíveis sobre a área de interesse. Pode ou não incluir técnicas geofísicas, que serão abordadas em um próximo artigo. Abaixo, destacamos as principais etapas sem o uso da geofísica:

1. Análise de Imagens: Fotointerpretação e Satélite

Por meio de fotos aéreas e imagens de satélite, é possível identificar:

  • A distribuição dos tipos de rochas (litotipos) na área;

  • Fraturas e falhas geológicas (lineamentos) que favorecem o fluxo de água;

  • A proximidade de comunidades e áreas sensíveis.

2. Inspeção Técnica e Reconhecimento Físico

A visita técnica ao local tem como objetivos:

  • Observar as características geológicas e físicas da área;

  • Verificar condições de acesso, topografia, uso do solo e proximidade de fontes de contaminação;

  • Confirmar dados obtidos por mapas e documentos anteriores.

3. Avaliação do Potencial Hidrogeológico

A partir da compilação de dados, é feita uma classificação do potencial hidrogeológico da área, utilizando os seguintes critérios:

a) Tipo de Rocha Predominante (Litotipo)

  • Sedimentares (ex: arenitos) – Alto potencial;

  • Rochas mistas – Potencial médio;

  • Cristalinas (ex: granitos, gnaisses) – Baixo potencial.

b) Espessura dos Sedimentos / Manto de Alteração

  • > 150 m – Alto potencial;

  • 50 a 150 m – Potencial médio;

  • < 50 m – Baixo potencial.

c) Comportamento das Rochas Cristalinas (rúptil/dúctil)

Avalia como as rochas se deformam sob esforço, influenciando a presença de fraturas:

  • Granitóides maciços – Alto potencial (mais fraturas);

  • Granitóides orientados – Potencial médio;

  • Micaxistos – Baixo potencial.

4. Análise dos Lineamentos Fotointerpretados

Lineamentos são feições lineares observadas em imagens, associadas a fraturas ou falhas. A densidade dessas estruturas por km² indica o potencial de ocorrência de água subterrânea.

d) Número de Lineamentos

  • > 6 por km² – Alto potencial;

  • 3 a 6 por km² – Potencial médio;

  • 0 a 3 por km² – Baixo potencial.

Além da quantidade, analisa-se também a orientação dos lineamentos, principalmente nas regiões cristalinas. Por exemplo, na Região Metropolitana de São Paulo, lineamentos com direção NNW e NNE são frequentemente mais produtivos.

e) Lineamentos Produtivos (NNW e NNE)

  • > 3 por km² – Alto potencial;

  • 2 a 3 por km² – Potencial médio;

  • 0 a 1 por km² – Baixo potencial.

5. Análise das Vazões de Poços Existentes

A vazão (quantidade de água que um poço fornece por hora) é um indicador direto da produtividade do aquífero. A média regional é definida a partir do cadastro de poços já perfurados:

f) Vazão Média dos Poços

  • > 10 m³/h – Alto potencial;

  • 2 a 10 m³/h – Potencial médio;

  • < 2 m³/h – Baixo potencial.

6. Cruzamento de Dados e Mapeamento do Potencial

Todos os dados levantados (litologia, espessura dos sedimentos, lineamentos, vazões, etc.) são integrados em uma matriz de análise. A partir desse cruzamento, é possível mapear os setores da área com maior ou menor potencial hidrogeológico, auxiliando na decisão de:

  • Onde perfurar o poço;

  • Qual profundidade estimada;

  • Qual o potencial esperado de captação.

Considerações Finais

A decisão de perfurar um poço profundo não deve ser feita por tentativa e erro. Um estudo hidrogeológico bem conduzido reduz riscos, otimiza investimentos e aumenta a chance de sucesso na captação da água subterrânea.

No próximo artigo, abordarei como as técnicas geofísicas podem complementar e aperfeiçoar a caracterização do subsolo, tornando o estudo ainda mais preciso