Erosão Glacial

Erosão Glacial, processos, forças e feições envolvidas e seus impactos geográficos

Dr. Mário Marcelino

8/12/20254 min read

Erosão Glacial: Processo, Forças, Feições e Impactos Geográficos

A erosão glacial é um dos agentes naturais mais potentes na modelagem da superfície terrestre, ocorrendo principalmente em regiões de clima frio, onde geleiras e mantos de gelo se formam e se deslocam.

Como ocorre a erosão glacial

Esse processo acontece quando o gelo de uma geleira desliza lentamente sobre o solo e as rochas, provocado pela força da gravidade. A pressão do gelo sobre a superfície subjacente e a presença de detritos rochosos incorporados ao gelo agem como ferramentas abrasivas, desgastando e arrancando fragmentos das rochas do terreno.

Além da abrasão, ocorre o plucking — mecanismo pelo qual o gelo congela em fissuras rochosas e, ao mover-se, arranca grandes blocos, contribuindo para a escavação do terreno.

Forças envolvidas

  • Gravidade: impulsiona o movimento da geleira morro abaixo.

  • Pressão do gelo: fragmenta as rochas e compacta o material.

  • Atrito e abrasão: entre o gelo, os detritos e a rocha, que desgastam a superfície.

  • Congelamento e descongelamento: facilitam o rompimento das rochas.

Principais feições e características da erosão glacial

A erosão glacial cria paisagens únicas, com feições distintas:

  • Vale em “U”: formado pela escavação profunda e alargamento do vale pelo gelo, com encostas íngremes e fundo plano, diferindo dos vales em “V” esculpidos por rios.

  • Cirques (ou círques): bacias semicirculares em encostas de montanhas, onde o gelo se acumula inicialmente e começa seu movimento.

  • Aretes: cristas afiadas formadas pela erosão glacial em lados opostos de um vale ou cirque.

  • Picos glaciares (horns): montanhas pontiagudas formadas pela erosão de múltiplos cirques convergentes.

  • Fiordes: vales glaciares inundados pelo mar, com águas profundas e encostas abruptas, comuns em regiões costeiras glaciais.

  • Morenas: depósitos de sedimentos deixados pela geleira em sua zona de ablação, formando cordões ou montículos.

  • Drumlins: colinas alongadas, formadas pelo movimento do gelo sobre sedimentos, indicando direção do fluxo glacial.

  • Rochas erráticas: grandes blocos transportados pela geleira e depositados longe de sua origem.

  • Lagos glaciares: formados no fundo dos vales erosivos cavados pela geleira. A intensa escavação do vale cria depressões profundas no solo rochoso que, após o recuo do gelo, se enchem de água da chuva, degelo ou cursos superficiais, formando lagos. A impermeabilidade da rocha exposta e o material depositado pelas morenas muitas vezes impedem o escoamento, favorecendo o acúmulo da água.

Impacto na geografia

A erosão glacial modifica o relevo de forma drástica, criando vales largos, planícies, lagos e montanhas escarpadas. Essas feições influenciam a hidrografia, a vegetação e os habitats locais, além de deixarem marcas geológicas que ajudam a entender a história climática da Terra.

Impacto na geografia

As rochas e feições geológicas relacionadas ao período glacial, embora não tão evidentes no estado de São Paulo como em regiões de clima frio ou de antigas glaciações intensas, apresentam registros importantes principalmente nas áreas onde processos erosivos e deposicionais deixaram marcas características daquele período geológico. No estado de São Paulo, as feições glaciares são sobretudo remanescentes indiretos, pois durante as eras glaciais, a região esteve em latitudes tropicais, longe das grandes capas de gelo; entretanto, a influência de processos periglaciais e de transporte de sedimentos provenientes do sul do continente pode ser identificada.

Entre as feições erosivas típicas associadas a processos glaciares e periglaciares, destacam-se as superfícies aplainadas e canais escavados por meltwater (águas de degelo) em afloramentos de rochas pré-cambrianas do Maciço de São Roque, localizado na região do Vale do Ribeira. Nessa área, observam-se vales em U e algumas encostas com evidências de intemperismo glacial, que, embora pouco pronunciadas, indicam ação erosiva por processos associados ao avanço e recuo de geleiras remotas ou ao transporte por rios de degelo.

Quanto às feições deposicionais, é possível encontrar depósitos associados à atuação de geleiras e suas águas de degelo na forma de sedimentos glaciofluviais, como conglomerados e arenitos no entorno da Serra do Mar, especialmente nas regiões próximas a Cubatão e São Vicente. Esses depósitos indicam transporte e acumulação de sedimentos de origem glacial ou periglacial, resultantes do derretimento das massas de gelo no período do Pleistoceno, embora muito modificados ao longo do tempo pelos processos tropicais de intemperismo e erosão.

Outro registro importante são os depósitos de tillitas, rochas sedimentares formadas diretamente pelo material depositado pelas geleiras, que podem ser encontrados em áreas do sul do estado, próximas à divisa com o Paraná, como em registros do Grupo Itararé. Essas tillitas são testemunhos diretos da presença de glaciações na região durante o período Permiano, quando o supercontinente Gondwana experimentou extensas camadas de gelo que influenciaram a sedimentação regional. Em Itú existe um parque muito interessante e educativo para visitar e levar os filhos, com evidência de "seixos pingados", rastros de animais em fundo de lago, etc.

Portanto, as feições geológicas associadas ao período glacial no estado de São Paulo são representadas por vestígios erosivos em rochas pré-cambrianas do Maciço de São Roque, depósitos glaciofluviais ao longo da Serra do Mar, e principalmente pelas tillitas do Grupo Itararé no sul paulista, evidenciando a complexa história de processos glaciais e periglaciais que influenciaram a geologia da região

Comparação com outras formas erosivas

Diferentemente da erosão fluvial, que cria vales estreitos e profundos em “V”, a erosão glacial cria vales em “U”, mais largos e achatados. A erosão eólica, atuando pelo vento, tem ação restrita a áreas áridas e remove partículas finas da superfície. A erosão marítima atua nas costas, modificando penínsulas e praias pela ação das ondas.

A erosão glacial é mais lenta, porém extremamente eficaz em modificar grandes extensões de terreno, com um impacto duradouro e visível em regiões glaciais e seus arredores