Drenança hidrogeológica

O que é e a importância nos estudos hidrogeológicos

Mário Marcelino, Dr.

9/24/20253 min read

1. Conceito de Drenância Hidrogeológica

A drenância hidrogeológica refere-se à capacidade do subsolo ou de um aquífero de coletar, conduzir e liberar água para outro sistema hidrogeológico, seja outro aquífero ou um corpo de água superficial. Em outras palavras, descreve como a água subterrânea se movimenta e interage entre diferentes compartimentos do sistema hídrico.

Esse conceito é distinto da drenância superficial, pois envolve:

  • Fluxos subterrâneos, muitas vezes lentos e controlados pela porosidade e permeabilidade do solo e rochas;

  • Transferência entre aquíferos sobrepostos ou adjacentes, conhecidos como sistemas aquíferos superpostos;

  • Interação aquífero-rio, incluindo rios efuentes e influentes (ver item 3 abaixo).

2. Transferência entre Sistemas Aquíferos Superpostos

Quando existem múltiplos aquíferos sobrepostos ou próximos, pode haver transferência de água de um para outro, dependendo de:

  1. Diferença de potencial hidráulico (carga piezométrica): a água se move naturalmente de zonas de maior para menor pressão ou nível freático.

  2. Conexão hidráulica: fraturas, falhas, ou camadas permeáveis que permitem o fluxo entre aquíferos confinados e semi-confinados.

  3. Diferença de permeabilidade: quanto maior a permeabilidade do material separador, mais rápida a transferência.

Essa drenância entre aquíferos é importante para:

  • Recarregamento natural de aquíferos inferiores;

  • Gestão de exploração de água, prevenindo sobre-exploração de camadas mais profundas;

  • Avaliação de contaminação, pois poluentes podem migrar entre aquíferos.

Exemplo técnico:


Se um aquífero superficial é rico em recarga de chuva, ele pode alimentar um aquífero confinado adjacente através de camadas permeáveis, equilibrando os níveis de água subterrânea.

3. Interação Água Subterrânea – Corpo de Água Superficial

A drenância hidrogeológica também descreve a troca de água entre rios, lagos e aquíferos:

  1. Rios efuentes: o nível do aquífero é maior que o do rio, e a água flui do aquífero para o rio, mantendo sua vazão, mesmo em períodos secos.

  2. Rios influentes: o rio está acima do nível do lençol freático, e a água infiltra do rio para o aquífero, recarregando-o.

  3. Rios de equilíbrio: quando os níveis são aproximadamente iguais, a troca é mínima ou bidirecional.

Essa interação depende de fatores como:

  • Diferença de carga hidráulica (nível freático vs nível do rio);

  • Permeabilidade do substrato;

  • Geomorfologia do leito do rio.

Importância:

  • Mantém ecossistemas aquáticos em equilíbrio;

  • Permite recarga de aquíferos e regulação hídrica em períodos secos;

  • Influencia o planejamento de captação de água e proteção ambiental.

4. Medição e Ensaios em Campo

Para avaliar a drenância hidrogeológica, utilizam-se:

  • Piezômetros e poços de monitoramento: medem nível de água e diferenças piezométricas entre aquíferos;

  • Ensaios de bombeamento (pump tests): determinam transmissividade e conectividade entre aquíferos;

  • Tracers ou traçadores químicos: estudam a velocidade e direção do fluxo entre sistemas;

  • Medições de vazão em rios e córregos: para identificar se o rio está efuente ou influente.

Esses dados permitem modelar o fluxo subterrâneo e prever a recarga e drenagem natural.

5. Relevância em Estudos Hidrogeológicos

A drenância hidrogeológica é fundamental para:

  1. Gestão sustentável de aquíferos, evitando superexploração;

  2. Previsão de impactos ambientais, como secas e contaminação;

  3. Planejamento de poços e captações, definindo profundidade ideal e localização;

  4. Proteção de corpos d’água superficiais, pois o fluxo subterrâneo mantém a vazão de rios e lagos.

6. Referências Bibliográficas

  • Todd, D.K. & Mays, L.W. (2005). Groundwater Hydrology. 3rd Edition. John Wiley & Sons.

  • Fetter, C.W. (2018). Applied Hydrogeology. 5th Edition. Pearson.

  • Freeze, R.A. & Cherry, J.A. (1979). Groundwater. Prentice Hall.

  • Bouwer, H. (2002). Groundwater Hydrology. McGraw-Hill.