Contaminação por petróleo e derivados.

Desafios, soluções e a metodologia EBIC

Mário Marcelino, Dr.

8/27/20253 min read

Contaminação por petróleo e derivados: desafios, soluções e a metodologia EBIC

A exploração, o transporte e o refino de petróleo são fundamentais para a economia global, mas também carregam um risco significativo: a contaminação ambiental. Vazamentos em refinarias, falhas em oleodutos, tanques corroídos ou acidentes em áreas de armazenamento podem provocar impactos severos em solos, águas superficiais, aquíferos e ecossistemas. Além dos danos ambientais e sociais, esses eventos geram custos econômicos expressivos e riscos jurídicos para empresas e governos.

Onde estão os principais riscos

  • Refinarias: pequenas perdas contínuas e falhas em sistemas de contenção podem infiltrar hidrocarbonetos no solo e lençol freático.

  • Oleodutos e dutos de derivados: corrosão, falhas técnicas ou furtos podem resultar em grandes derramamentos, que atingem tanto solos como rios e aquíferos.

  • Áreas de armazenamento e distribuição: tanques subterrâneos antigos, ainda comuns em postos de combustíveis, são responsáveis por contaminações extensas e complexas de remediar.

Os impactos não se restringem ao meio físico: afetam a biodiversidade, comprometem a saúde pública e impõem elevados custos de recuperação. Quando contaminantes como benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos (BTEX) ultrapassam os limites legais, os danos podem persistir por anos. Estudos mostram que, em média, o gerenciamento de áreas contaminadas por derivados de petróleo leva cerca de 6,5 anos até sua resolução.

O desafio da gestão das áreas contaminadas

Apesar da diversidade geológica do Brasil, especialmente em estados como São Paulo, a maioria dos casos de contaminação por combustíveis fósseis apresenta comportamentos hidrogeológicos semelhantes. Isso porque a maior parte ocorre em postos de combustíveis urbanos, geralmente instalados em vales sedimentares ou mantos de alteração de rochas cristalinas. Dessa forma, os parâmetros que controlam a mobilidade da contaminação — como profundidade do lençol freático, gradiente hidráulico e condutividade — mostram pouca variação estatística entre diferentes áreas.

Essa constatação é estratégica: permite padronizar análises e desenvolver modelos preditivos. Um exemplo concreto é a pesquisa que realizei no doutorado pela USP, onde analisei 878 etapas de Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC) em São Paulo, envolvendo 21 empresas e 44 áreas diferentes.

A metodologia EBIC

Dessa pesquisa nasceu a EBIC – Estimativa Baseada na Investigação Confirmatória, uma metodologia que possibilita quantificar e valorar antecipadamente as atividades necessárias para a investigação e remediação do dano ambiental reversível causado por combustíveis fósseis.

Com base nos dados coletados até a etapa de Investigação Confirmatória, o EBIC estima atividades, prazos médios e custos futuros, permitindo a cotação antecipada dos trabalhos de remediação. Isso traz uma vantagem significativa: empresas, gestores públicos e investidores conseguem incorporar o passivo ambiental em sua contabilidade e tomar decisões com base em previsões realistas.

As aplicações práticas são diversas:

  • Empresas em fusões e aquisições podem avaliar com maior precisão os custos de passivos ambientais.

  • Negociações de Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) ganham transparência, com prazos e investimentos previstos.

  • Gestão de brownfields (áreas degradadas com potencial de requalificação) torna-se mais eficiente, ao permitir prognósticos sobre tempo e investimento necessários para recuperação.

Conclusão

A contaminação por petróleo e derivados é um problema global, que exige prevenção, monitoramento e soluções técnicas robustas. Mas, além das tecnologias de contenção e remediação já conhecidas, a antecipação de custos e prazos surge como um diferencial para reduzir riscos corporativos e apoiar decisões estratégicas.

A metodologia EBIC representa um passo nessa direção, ao transformar dados técnicos de investigação ambiental em ferramentas de planejamento econômico e jurídico, promovendo maior segurança para empresas e para a sociedade diante de um dos maiores desafios ambientais contemporâneos.