Considerações sobre a gestão hídrica do Teerã
Contribuição à gestão hídrica mundial. Diagnóstico da crise hídrica do Teerã
Mário Marcelino, Dr.
11/15/20254 min read


Teerã enfrenta uma crise hídrica grave: seus cinco principais reservatórios (Latyan, Lar, Karaj – Amir Kabir, Taleqan e Mamloo) estão em níveis historicamente baixos, com algumas barragens operando com apenas 5% a 12% da capacidade. A precipitação na região ficou entre 40% e 45% abaixo da média nos últimos ciclos, agravando a situação. Com isso, a cidade depende cada vez mais de aquíferos subterrâneos, mas o bombeamento excessivo tem provocado subsidência em várias partes da capital. Reportagens recentes alertam para cortes de pressão noturnos, apelos para a população economizar água e até ameaças de racionamento ou evacuação.
A crise hídrica que afeta Teerã resulta da interação de fatores climáticos, hidrológicos e, sobretudo, de limitações estruturais de gestão. A redução das precipitações nas últimas décadas e o aumento da variabilidade climática intensificaram a pressão sobre os mananciais superficiais que abastecem a capital iraniana. Entretanto, estudos indicam que a escassez não pode ser atribuída apenas ao clima: o fator determinante tem sido a gestão fragmentada dos recursos hídricos, marcada pela falta de integração entre águas superficiais e subterrâneas, superexploração de aquíferos e políticas de uso pouco eficientes.
Os reservatórios que abastecem Teerã — como Latyan, Lar e Mamloo — vêm registrando quedas sistemáticas de volume útil, consequência direta do regime de estiagem prolongada e do aumento da demanda urbana. Para compensar o déficit, o bombeamento de águas subterrâneas se intensificou, provocando queda acentuada dos níveis piezométricos, subsidência significativa em áreas urbanas e redução da capacidade natural de armazenamento dos aquíferos. A literatura especializada aponta que algumas regiões metropolitanas de Teerã apresentam taxas de subsidência superiores a 20–25 cm/ano, entre as mais altas do mundo, diretamente associadas ao excesso de extração subterrânea.
Além disso, a agricultura no entorno da bacia hidrográfica da capital consome parcela significativa da água disponível, frequentemente com sistemas de irrigação de baixa eficiência. A ausência de políticas eficazes de controle de captações, aliada a subsídios que historicamente incentivam o uso intensivo da água, agrava a pressão sobre os recursos hídricos. A infraestrutura de distribuição urbana, por sua vez, sofre com perdas elevadas e limitações técnicas, reduzindo ainda mais a disponibilidade de água tratada.
Assim, podemos destacar vários fatores importantes que contribuem para a crise de água em Teerã, tais como:
Exploração excessiva de águas subterrâneas
Para compensar a falta de água de superfície, há muito bombeamento de lençóis freáticos. Isso leva à queda dos aquíferos.
Essa extração intensa causa subsidência (afundamento do solo) em várias partes da cidade.
Má gestão da água / Infraestrutura deficiente
Há perdas significativas por vazamentos em infraestrutura antiga.
Também existe consumo ilegal ou não medido (“consumo ilegal, uso público gratuito, erro de medidores”).
Políticas de subsídio tornam a água “barata”, reduzindo incentivos para economizar.
Consumo agrícola muito alto e ineficiente
A agricultura no Irã usa a maior parte da água, e boa parte desse uso é muito ineficiente (por exemplo, irrigação antiquada).
Além disso, o governo incentivou o cultivo de culturas demandantes de água em regiões áridas.
Crescimento populacional e urbanização rápida
Teerã cresceu muito nos últimos anos, e a infraestrutura de abastecimento de água não acompanhou totalmente esse crescimento.
A urbanização agrava a pressão sobre os recursos hídricos locais.
Mudanças climáticas e altas temperaturas
O aumento da temperatura intensifica a evaporação, levando a mais perda de água e a menor recarga dos aquíferos.
Também há um desequilíbrio entre oferta e demanda por causa dessas mudanças climáticas.
Políticas mal planejadas / megaprojetos mal dimensionados
A construção de muitos grandes barramentos (dams) e a dependência de “soluções de engenharia” têm falhado em resolver o problema de longo prazo.
Transferência de água entre bacias também tem sido usada, mas traz riscos ecológicos e sociais.
Contaminação da água subterrânea
Parte da água de Teerã vem de aquíferos que estão contaminados por esgoto residencial ou resíduos industriais.
Isso reduz a disponibilidade de água potável segura, além de dificultar a reutilização de água.
Então, o problema da água em Teerã não é só climático — há uma combinação de superexploração, gestão ineficiente, demanda excessiva e falhas estruturais. Mesmo que chova, alguns desses problemas continuariam a comprometer a sustentabilidade do abastecimento.
Diversos organismos internacionais e pesquisadores iranianos defendem que a superação da crise depende da implementação de uma gestão integrada de recursos hídricos, baseada nos princípios do Integrated Water Resources Management (IWRM), com foco em monitoramento contínuo, controle rigoroso da extração subterrânea, modernização dos sistemas de irrigação e recuperação da capacidade de recarga natural da bacia (UNESCO, 2020; Nazari et al., 2022).
Sem essa abordagem sistêmica e de longo prazo, Teerã permanecerá vulnerável a desequilíbrios entre oferta e demanda, mesmo em anos com precipitações próximas da média histórica.
Referências essenciais
Ashraf, S. et al. (2021). Assessment of Water Scarcity and Management Challenges in Iran. Journal of Hydrology.
Khaki, M. et al. (2020). Satellite-based assessment of groundwater depletion and land subsidence in Tehran Basin. Remote Sensing of Environment.
Madani, K. (2014). Water management in Iran: What is causing the looming crisis? Journal of Environmental Studies.
Madani, K., & Dinar, A. (2012). Non-cooperative and cooperative approaches to water management in Iran. Environmental Development Economics.
Motagh, M. et al. (2008). Land subsidence in Tehran investigated with InSAR. Remote Sensing of Environment.
UNESCO (2020). UN World Water Development Report – Water and Climate Change.
Nazari, M. et al. (2022). Integrated Water Resources Management Strategies for Tehran Basin. Water Resources Management.
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