Cidades-fantasma: quando a contaminação obriga a população a se mudar

Situações de casos existentes pelo mundo e no Brasil

Mário Marcelino, Dr.

8/22/20253 min read

Cidades-fantasma: quando a contaminação obriga a população a se mudar

Cidades inteiras já foram abandonadas — não por guerras ou crises naturais, mas por poluição industrial tão grave que tornou a região inabitável. Essas “cidades-fantasma” são testemunhos silenciosos de tragédias ambientais e sociais. A seguir, alguns casos emblemáticos ao redor do mundo:

1. Picher, Oklahoma (EUA)

Picher emergiu como centro de extração de chumbo e zinco, com mineração intensa por mais de um século. A atividade deixou o solo e a água profundamente contaminados, além de causar perigo estrutural devido às galerias subterrâneas e grandes montes de rejeitos tóxicos — conhecidos como chat (Wikipedia).

Estudos realizados em 1994 revelaram que 34% das crianças estavam contaminadas por chumbo, um quadro alarmante de envenenamento infantil (Wikipedia WIRED). A poluição e os riscos estruturais levaram a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) a transformar a cidade no chamado Superfund site, com posterior evacuação obrigatória e recompra das propriedades. Em 2009, Picher foi oficialmente dissolvida como município (Wikipedia WIRED).

2. Times Beach, Missouri (EUA)

Essa cidade, com mais de 2.000 habitantes, foi completamente evacuada em 1983 após ser contaminada com TCDD — uma dioxina extremamente tóxica — considerada a maior exposição civil da história dos EUA Wikipedia. Em 1985, Times Beach perdeu seu status de cidade. Décadas depois, o local foi transformado em parque estadual e retirado da lista de Superfund em 2001 (Wikipedia).

3. Centralia, Pensilvânia (EUA)

Originada a partir de uma mina de carvão, Centralia tornou-se inabitável após um incêndio subterrâneo iniciado em 1962, que ainda segue ativo e liberando fumaça e monóxido de carbono pelo solo. Ruas foram fechadas, estruturas demolidas e a maior parte dos habitantes teve que sair. Em 2013, poucas casas ainda estavam ocupadas, com moradores recebendo acordos financeiros e direito de permanecer somente até o fim da vida (Wikipedia).

4. Pripyat, Ucrânia

Cidade construída para abrigar trabalhadores da usina de Chernobyl, foi evacuada em 1986 após o desastre nuclear. Com população de cerca de 49.000 habitantes, Pripyat tornou-se símbolo do abandono e da contaminação radioativa. Ainda hoje, permanece desabitada dentro da zona de exclusão, sob administração do governo ucraniano (Wikipedia).

5. Maceió – Bairro de Bebedouro, Alagoas (Brasil)

Um caso recente e marcante no Brasil. Décadas de mineração de sal-gema pelos vazamentos da Braskem causaram afundamento de solo e surgimento de cavidades subterrâneas, comprometendo imóveis e colocando a população em risco. Desde 2020, mais de 55.000 pessoas foram evacuadas de cinco bairros, incluindo Bebedouro e Pinheiro (ABCDaily SabahAP News). Casas, escolas e comércios foram deixados para trás, e muitas famílias sofreram perdas emocionais além das físicas. A Braskem ofereceu indenizações e realocação, mas o impacto social ainda é profundo, com moradores resistindo à mudança (The Independentspectrumnews1.com).

6. Região de Mariana, Minas Gerais (Brasil)

O colapso da barragem de Fundão, em 2015, despejou cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração, devastando Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. Casas, igrejas e infraestrutura foram soterradas por lama tóxica. Hoje, vestígios dos locais permanecem como áreas abandonadas, com inúmeras famílias ainda aguardando reassentamento e reparações (RFIDigital Journal).

O quadro abaixo apresenta um resumo dos principais exemplos citados no texto.

Quadro 1 - Resumo do problema das cidades fantasmas

Conclusão

As cidades-fantasma provocadas pela contaminação industrial representam falhas profundas na gestão ambiental, na proteção da saúde pública e na responsabilização dos responsáveis. Cada caso, seja nos EUA, Europa ou Brasil, ressalta desafios únicos: desde o abandono total até complicadas negociações de realocação e reconciliação social.

Em todos eles, é possível encontrar esforços para reparação — com variados graus de sucesso — que incluem limpeza ambiental, indenizações, revitalização ou estabelecimento de áreas de preservação. Mas o impacto humano e simbólico dessas cidades permanece. São memórias concretas do preço que comunidades pagam quando a poluição industrial ultrapassa os limites.