Captação de água subterrânea: como garantir o sucesso do seu poço?

A redução da disponibilidade de água superficial tratada – seja pela dificuldade de tratamento decorrente de sua qualidade ou pelo aumento da demanda em relação à oferta (resultado da urbanização acelerada e não planejada, bem como da expansão agrícola) – tem levado a população a “descobrir” a alternativa de perfurar poços para captação de água subterrânea.

A importância desse recurso no contexto hídrico mundial é evidente: 97% de toda a água doce disponível no planeta está armazenada no subsolo, enquanto apenas 3% encontra-se nas águas superficiais (rios, lagos e reservatórios).

Mas a captação de água subterrânea pelo ser humano é algo recente? Definitivamente não. Registros históricos indicam que, já em 2.100 a.C., o exército egípcio havia construído 14 poços. Estima-se que, nos últimos 30 anos, mais de 300 milhões de poços tenham sido perfurados no mundo, sendo que aproximadamente 50% da população mundial consome exclusivamente água subterrânea.

O valor econômico desse bem mineral só é superado pelo petróleo, razão pela qual a água subterrânea há tempos é chamada de “ouro azul”.

No entanto, a perfuração de poços, especialmente em grandes centros urbanos como São Paulo, é uma obra complexa, regida por normas técnicas e legislações específicas, e pode chegar a custar centenas de milhares de reais. Para agravar, as empresas de perfuração não oferecem garantia de sucesso na obtenção da água, mesmo cobrando integralmente pelo serviço.

Por outro lado, quando bem-sucedida, a captação apresenta excelente retorno econômico, geralmente inferior a dois anos, devido ao constante aumento das tarifas de água tratada pelas concessionárias.

Mas como captar esse “ouro azul” de forma segura e eficaz?

Muitas pessoas recorrem rapidamente à internet, selecionam uma ou duas empresas de perfuração e, “pimba”, consideram resolvido. Afinal, dificilmente o vendedor dirá que você não deveria perfurar.

Entretanto, contratar uma empresa de perfuração sem antes ter um estudo e projeto prévios é como contratar uma construtora para erguer um prédio sem qualquer planejamento prévio: a obra poderá até seguir as normas técnicas, mas você não saberá se realmente precisa de um prédio (talvez bastasse uma casa) ou sequer se poderá utilizá-lo ao final, devido a restrições legais ou técnicas do terreno.

Já incorporamos a cultura de contratar um projeto antes de construir um prédio, justamente para evitar esses riscos. Contudo, na perfuração de poços, muitos ainda insistem em executar a obra sem qualquer estudo prévio.

Além do risco econômico, há riscos à saúde dos consumidores da água captada, caso não sejam observados adequadamente os aspectos técnicos e legais necessários para garantir a segurança do abastecimento.

O estudo prévio deve responder, no mínimo, a cinco questões fundamentais:

1. Qual sua real necessidade de água?

Muitos clientes me procuram solicitando a perfuração de poços tubulares profundos (os populares “poços artesianos”), que envolvem altos investimentos e riscos, mas, após análise, verifico que eles já possuíam oferta suficiente de água para seu consumo. A percepção de escassez, nesses casos, decorre de falhas na gestão do uso, desperdícios, redes de distribuição mal dimensionadas, sistemas de armazenamento inadequados ou perdas por vazamentos.

2. Qual o potencial de obtenção de água subterrânea na sua área?

A caracterização hidrogeológica prévia é decisiva para o sucesso da captação. Esse estudo indica as chances de sucesso, a vazão média potencial do futuro poço e fornece subsídios para sua locação e projeto construtivo.

3. Quais são os impedimentos e premissas legais aplicáveis?

A captação de recursos hídricos é regulamentada por legislações federais, estaduais e municipais, além de normas técnicas específicas. Em grandes cidades, como São Paulo, existem ainda restrições adicionais devido à ocorrência de áreas contaminadas.

4. Qual o melhor local para perfuração do poço?

A água subterrânea é armazenada e escoa em subsuperfície de acordo com a porosidade (espaços vazios nas rochas) e a permeabilidade (interconexão desses espaços). O melhor local de perfuração é aquele com as melhores características de armazenamento e fluxo, definidos por meio de estudos hidrogeológicos e, sempre que possível, complementados por investigações geofísicas, que permitem identificar estruturas preferenciais de fluxo e a profundidade ideal de captação.

5. Qual é o projeto básico do poço e como contratar a empresa de perfuração?

Com base nas informações anteriores e nas normas técnicas, é elaborado o projeto básico construtivo, definindo os itens de perfuração e instalação, além da profundidade prevista. Esse projeto permite cotação padronizada entre empresas capacitadas, viabilizando a comparação técnica e econômica entre as propostas.

Sem um projeto prévio, como comparar propostas que não seguem o mesmo padrão? E como contratar algo sem saber o que realmente está adquirindo? Nesses casos, o contratante, na prática, assina um “cheque em branco”, sem saber sequer a profundidade final do poço e, consequentemente, o valor da obra.

Conclusão

O estudo e o projeto de captação de água subterrânea fornecem informações essenciais para decidir se o poço deve ou não ser perfurado, além de indicar como e onde realizar a obra e permitir a contratação adequada dos serviços.

Portanto, aumente suas chances de sucesso e evite riscos desnecessários: contrate sempre o estudo hidrogeológico e o projeto do poço antes de iniciar qualquer perfuração.