Análise de risco ambiental de área contaminada

O que é e para que serve a análise de risco de área contaminada.

Mário Marcelino, Dr.

7/10/20254 min read

A avaliação de risco de uma área contaminada, vamos entender um pouco?

A realização da etapa de Avaliação de Risco é planejada com base no Modelo Conceitual Ambiental estabelecida na Investigação detalhada, desenvolvida anteriormente, e objetiva identificar e quantificar os riscos à saúde, em função dos parâmetros técnicos e legais, frente às substâncias químicas de interesse (SQI), das características físicas do local, o uso atual e futuro e dos potenciais receptores.

Inicialmente, primeiro precisamos entender que para haver o risco, tem que haver o receptor do risco (neste caso o Homem), o elemento de risco (o contaminante) e, é claro, a exposição do risco ao receptor. Se existe o elemento do risco e o receptor, mas este não está exposto ao risco, o risco é baixo, conforme ilustra a Figura 1.

Figura 1 - Elementos básicos que compõe o risco

Assim, a análise de risco deve estabelecer, antes de mais nada, quais os contaminantes presentes na área, seus vetores de transporte no meio ambiente e como eles entram em contato com os receptores (moradores, trabalhadores, etc.) potenciais e, em função de da concentração exposta pelos receptores, se oferecem riscos à saúde. Assim, o risco varia com o contaminante, as características locais e o uso da área, como os receptores estão presentes?

Claro que, se podemos definir a concentração pelo qual passa a existir risco à saúde, podemos definir qual a concentração máxima possível para existir no meio, sem que haja risco as pessoas.

Os cálculos risco consideram a localização do contaminante no meio (se está na superfície, em profundidade, no solo, na água subterrânea ou em fase vapor (gás), suas características químicas e sua toxidade ao homem.

De uma maneira geral, o gerenciamento de um composto de alta toxidade e carcinogênico (que oferece risco de câncer) ao Homem, assim como o Benzeno existente na gasolina, deve ter seu gerenciamento mais rigoroso e criterioso que o elemento ferro, por exemplo, de baixo impacto à saúde do Homem.

Além das características do contaminante e sua localização no meio físico, a análise de risco considera as possíveis formas de contato do Homem com o contaminante, ou os vetores de exposição. Uma área em que o piso esta concretada na superfície, oferece menos riscos de contato do homem com contaminantes no subsolo que outra, em que o solo está exposto, não está impermeabilizado ou isolado!

Quando comparamos 2 áreas iguais com mesma concentração de gasolina no subsolo, uma área em que a gasolina situa-se a 30 metros de profundidade oferece menos riscos as pessoas que trabalham na superfície que outra, em que a gasolina está na superfície ou a apenas alguns centímetros dela.

Se falamos de gasolina, este emana vapores tóxicos para a superfície e, se você tem porão em sua casa, esta oferece maiores riscos a uma possível contaminação no subsolo (os vapores podem ingressar no porão e acumular) que outra casa, que não tem porão. Se a água subterrânea esta contaminada, uma casa que usa água de poço escavado no local, oferece mais riscos que outra que recebe água encanada, do sistema público!

Todos os mecanismos de transporte dos contaminantes e de exposição do Homem aos mesmos, são considerados e quantificados. Modelos matemáticos calculam, considerando a concentração do contaminante caracterizado, a concentração que você ficará exposto na superfície ou ao beber a água do poço.

A etapa de Avaliação de Risco à Saúde Humana de uma área contaminada deve seguir a Resolução Conama 420 de 2009 (ABNT NBR 16209 - Avaliação de risco a saúde) no território Brasileiro e, no Estado de São Paulo, também as diretrizes contidas na Decisão de Diretoria da CETESB nº 38, de 07/02/2017, que dispõe sobre a aprovação do "Procedimento para a Proteção da Qualidade do Solo e das Águas Subterrâneas". O gerenciamento de áreas contaminadas no Estado de São Paulo prevê um fluxo de atividades conforme ilustra a imagem em anexo, aprovado por meio do Decreto 59.263/2013.

Qual a vantagem do uso da análise de risco no gerenciamento de áreas contaminadas?

Antigamente existia uma grande disputa entre os que defendiam a "limpeza da área" (remediação) até a eliminação total do contaminante no meio e os "que tinha que pagar a conta". Acontece que, com o avanço das tecnologias de detecção de contaminantes no meio, os limites de "limpeza total" estavam cada vez mais rigorosos e custosos, e, muitas vezes, tecnicamente difíceis de ser obtido. Limpar uma mancha de ketchup na roupa é muito mais difícil que simplesmente tirar o molho de sua superfície. E ficava a pergunta: é necessário, mesmo, tamanho custo e esforço para remover 100% dos contaminantes de uma área, ainda mais quando os recursos são escassos e existem tantas áreas a serem remediadas?

A Figura 2 ilustra o dilema diminuição da concentração do contaminante (elemento de risco) no meio versus o custo da remediação, considerando a detecção do contaminante.

Figura 2 - Curva de risco x remediação

Assim, fica claro que quanto mais rigoroso foi a remediação, a eliminação do contaminante do meio, maior será o custo, o esforço e o tempo necessário para se atingir o objetivo. Assim, a análise de risco ambiental maximiza o processo de forma a proteger o Homem (receptor), além de definir, claramente, um concentração máxima para o meio frente um uso da área.

Mas porque as condições de risco são estabelecidas frente condições de uso?

Bem, sendo direto e simplista, você tem uma área industrial, com piso concretado e as pessoas permanecem algumas horas por dia durante alguns anos no local, é diferente de uma casa, em que pessoas vivem até 30 anos no local e que crianças brincam no jardim e até “comem terra”. Assim, o uso deve ser considerado e definido.