Amostragem de águas subterrâneas por baixa vazão: importância, cuidados e riscos
Considerações à coleta de água subterrânea no monitoramento hidrogeológico
Mário Marcelino, Dr.
7/19/20253 min read


Gestores ambientais e responsáveis pelo monitoramento da qualidade de águas subterrâneas já trabalharam ou ao menos tiveram contato com o sistema de coleta por “baixa vazão”.
Normatizada nos Estados Unidos pela USEPA em meados dos anos 1990, essa técnica de amostragem foi desenvolvida para garantir amostras mais representativas das águas subterrâneas em estudos de investigação de contaminantes no subsolo.
Com a evolução da consciência ambiental no Brasil e a busca por procedimentos normatizados com qualidade assegurada, a partir do final dos anos 1990 a procura por serviços de coleta pela técnica de baixa vazão se intensificou. No entanto, ainda são amplamente utilizadas técnicas convencionais, como coleta com bailer ou com bombas elétricas submersas.
A utilização de bailers, por exemplo, apresenta grande dificuldade para reproduzir as mesmas condições entre diferentes amostragens. Diversos fatores interferem na qualidade da coleta, como:
material de fabricação dos bailers;
tempo decorrido entre o esgotamento e a coleta;
velocidade de inserção e retirada no poço;
aeração da amostra;
variações de temperatura;
manuseio dos materiais.
Essas interferências podem comprometer significativamente a representatividade das amostras coletadas.
Já o uso de bombas elétricas submersas pode acarretar a alteração química da amostra, além de provocar o deslocamento acelerado de contaminantes, modificando o comportamento natural da pluma de contaminação.
O aprimoramento das técnicas de coleta, representado pela amostragem por baixa vazão, permite maior representatividade das amostras, reduzindo custos com reamostragens, análises laboratoriais e, consequentemente, evitando programas de remediação e controle equivocados ou desnecessários.
No entanto, para garantir a eficácia dessa técnica, é fundamental que todos os procedimentos recomendados pelas normas USEPA, ASTM e, mais recentemente, pela ABNT NBR 15847, sejam rigorosamente seguidos.
Um problema recorrente é a realização de coletas com bombas submersas indevidamente chamadas de baixa vazão. Sistemas improvisados, sem qualquer controle previsto pelas normas, vêm sendo amplamente utilizados sob o título de baixa vazão, mas sem atender aos princípios técnicos que garantem a qualidade da amostra.
O princípio básico da técnica consiste em coletar a amostra diretamente da seção filtrante do poço, utilizando fluxo laminar e vazão reduzida, de forma a evitar a entrada de água em velocidade superior àquela fornecida naturalmente pelo aquífero. Isso minimiza o distúrbio no poço e, por meio do monitoramento contínuo dos parâmetros físico-químicos do fluxo bombeado, identifica-se o momento em que a água coletada passa a ser efetivamente representativa do aquífero, determinando o ponto ideal de coleta. Diversas variáveis devem ser controladas para que esse procedimento seja realizado corretamente.
Quando a equipe de coleta não segue padrões de qualidade ou não é acreditada pelo INMETRO (conforme requisitos da ISO NBR 17025), observa-se o uso de vazões muito superiores às recomendadas, com o objetivo de reduzir o tempo de coleta e os custos operacionais da empresa prestadora de serviços. Tal prática compromete a qualidade dos resultados de monitoramento, podendo acarretar riscos adicionais e aumento de custos para a gestão ambiental da empresa contratante.
Em amostragens por baixa vazão, o bombeamento deve ocorrer em vazões iguais ou inferiores a 1 L/min até a estabilização dos parâmetros físico-químicos escolhidos. Após a estabilização, recomenda-se reduzir a vazão para, no máximo, 0,5 L/min durante a coleta, sempre acompanhada de monitoramento on-line dos parâmetros de controle.
Além disso:
As mangueiras utilizadas devem ser descartáveis, fabricadas com materiais inertes e manuseadas de forma a evitar contato com o solo, mãos ou outros objetos antes da utilização.
As bombas, preferencialmente de aço inoxidável ou teflon, devem ser descontaminadas entre os poços, seguindo procedimentos específicos estabelecidos pelas normas.
Em síntese, embora equipes de coleta não certificadas possam, num primeiro momento, apresentar menor custo de contratação, ao final, essa economia pode sair cara, aumentando riscos corporativos e passivos ambientais para a empresa.
Sustentabilidade
Consultoria ambiental com foco em desenvolvimento sustentável.
CONTATO
contato@frevo.eco.br
+55 (11) 98305-0121
© 2025. All rights reserved.