Agricultura sustentável e gestão das águas subterrâneas
A importância da gestão da água subterrânea para a agricultura sustentável.
Mário Marcelino, Dr.
7/17/20253 min read


A agricultura sustentável é fundamental para garantir alimentos para todos, proteger os recursos naturais e impulsionar o desenvolvimento econômico das comunidades rurais. Com o crescimento acelerado da população mundial e o aumento constante da demanda por alimentos, torna-se cada vez mais urgente produzir mais, mas com menor impacto ambiental. Isso requer práticas agrícolas que preservem a saúde do solo, mantenham a qualidade da água, conservem a biodiversidade e fortaleçam a resiliência dos sistemas de produção frente às mudanças climáticas.
Nesse cenário, a água subterrânea assume papel estratégico. Sob nossos pés existe um vasto reservatório de água doce que sustenta lavouras, rebanhos e comunidades inteiras, especialmente em regiões onde a água de rios e lagos é escassa ou irregular. Gerir adequadamente esse recurso é essencial para a agricultura sustentável, pois garante o abastecimento durante estiagens, estabiliza a produção agrícola e reduz a pressão sobre rios, lagos e reservatórios superficiais.
Em muitas regiões agrícolas do mundo, os produtores dependem da água subterrânea para irrigar suas plantações e garantir a segurança alimentar. Desde as planícies espanholas até os campos agrícolas do Brasil, como em São Paulo ou no Oeste da Bahia, a água subterrânea funciona como um escudo contra períodos de seca, permitindo o cultivo mesmo quando as chuvas falham. No entanto, essa dependência traz desafios sérios. A extração excessiva tem causado queda nos níveis dos aquíferos, rebaixamento do solo, poços secos e riscos para o equilíbrio ambiental e a própria agricultura no futuro.
Para garantir o uso responsável desse recurso, é indispensável integrar tecnologias como imagens de satélite, dados hidrogeológicos, mapas de solo e informações sobre o uso agrícola da terra em Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Essas ferramentas ajudam a entender como a água subterrânea interage com os sistemas produtivos, identificam áreas onde os aquíferos estão sob maior pressão, permitem prever tendências e subsidiam políticas mais justas e sustentáveis para sua utilização.
Esse tipo de gestão é especialmente necessário em regiões semiáridas e áridas, onde as chuvas são irregulares e a agricultura depende fortemente da irrigação. Nesses locais, mapas de potencial hídrico subterrâneo, aliados a sistemas de monitoramento por telemetria, orientam desde a escolha de novos pontos para perfuração de poços até o manejo adequado das zonas de recarga. Essa abordagem reduz riscos de exploração predatória e garante a produtividade no longo prazo.
Outra vantagem do monitoramento integrado é a adaptação às mudanças climáticas. Alterações nos regimes de chuva, aumento da evaporação e mudanças no calendário agrícola afetam o equilíbrio entre a recarga e a retirada de água subterrânea. Por isso, modelos hidrogeológicos computacionais podem simular diferentes cenários climáticos, apoiando agricultores no planejamento de sistemas de irrigação e manejo mais resilientes.
É importante também considerar a dimensão socioeconômica. Pequenos produtores, que são responsáveis por grande parte dos alimentos em diversos países em desenvolvimento, muitas vezes não têm acesso a tecnologias e informações para monitorar o uso da água subterrânea. Por isso, sistemas de monitoramento devem ser acessíveis e acompanhados de capacitação, possibilitando decisões mais conscientes. Além disso, governos e instituições precisam estabelecer normas claras, fiscalizar o uso sustentável e incentivar tecnologias de irrigação mais eficientes, como o gotejamento e a aspersão.
Outro aspecto crucial é o cuidado com as áreas de recarga dos aquíferos. Projetos voltados à proteção e à ampliação deliberada da recarga ajudam a aumentar o volume de água armazenada no subsolo em períodos de excesso hídrico. Mapas espaciais podem apontar os melhores locais para a recarga, seja com o escoamento superficial excedente ou com águas residuais tratadas, reforçando a sustentabilidade no uso da água pela agricultura.
Em resumo, a relação entre a agricultura sustentável e a gestão da água subterrânea vai muito além das fazendas. Ela impacta diretamente a segurança alimentar, os meios de subsistência, o desenvolvimento rural e a conservação ambiental. Para que essa relação seja positiva, é necessário que políticas públicas reconheçam essa interdependência, buscando sempre o equilíbrio entre produção agrícola e saúde dos aquíferos. Investimentos em pesquisa, tecnologias inovadoras, educação para os agricultores e ações conjuntas entre diferentes setores são fundamentais para transformar conhecimento em prática e garantir um futuro sustentável.
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